NOVAS HISTORIAS

Canto de amor 80x120

                            Canto de Amor

Meus quadros contam histórias de um tempo feliz, quando tudo era muito mais colorido.
Tudo era sonho, amanhã, promessas.
Alguns desses sonhos cresceram, outros ficaram velhos, perderam a cor. Um ou outro ainda resiste Mas tem um que me enfrenta.  Desafia. Resiste.  Me empurra pra frente.  Não fala, não grita, não chora, nem me deixa de castigo num canto. Apenas me olha. Sério, calmo, tranquilo. Em silêncio me obriga a pintar.
Sempre quis voltar à minha terra. Esse era um sonho.
Aqui morou a infância, aqui nasceram flores na alma, aqui os céus dourados ainda inventam manhãs.
Minha mãe Noemia, num jardim de cores cantava canções de ninar. Meu avô, Luiz Puntel, segurando minhas mãos, ensinava  construir castelos. Meu pai tinha as chaves.
Agora os caminhos são outros. Sei de cor, as cores do cimento. Sei o que é solidão, lonjura da terra natal.
Quando volto trazendo saudades, vontade de fincar raiz, encontro brilho nos olhos, sorrisos por todo canto.
E não é utopia. Não é um sonho.
Encontro esperança, alegria, portas abertas convidando para entrar.Aqui é meu canto.O melhor lugar do mundo para se ter no coração.



Sul de Minas 30x40

                                
                                  Sul de Minas

As nuvens não tem pressa, não tem dono, nem patrão.
Pra elas não adiantam porteiras, cercas, mata burro, prisão.
São donas do espaço.
Mas por aqui tem fulano, ciclano, beltrano, sócios do mundo e da vida.
Uns são donos de quase tudo, outros do quase nada.
Tudo tem metro e medida, lei no papel, documentos.
Mas pra que tudo isso? Você sabe a resposta?
Só para amansar o povo ou jogar mel no formigueiro?
Vamos sair por aí voando, colorindo céus, manhãs de junho, afugentando tempestades, rabiscos de mau tempo.
Que tal dar um susto nas aves de rapina?
Aqui pertinho nasce o dia.
O amanhã já levantou!
Vamos?






Vento a favor 30x40
                                       

                                               
                                       VENTO A FAVOR

Hoje tem vento a favor. A pipa sobe aos céus, levando recadinhos dos meninos pra Jesus. Eram papeizinhos colados na rabiola. Se a pipa voltasse inteira, tudo certo. Deus tinha lido. Já era um começo. Às vezes dava certo. Só que Deus nem sempre lia, ou o pai esquecia.
“Tomara que meu pai ganhe bastante dinheiro, nesse fim de semana, pra me levar ao cinema.” pedia um menino.
Olha o trem! Gritava outro. Daqui a pouco chega a noite!
Chegavam também os vizinhos pra jogar conversa fora.
Chegava a gente da roça procurando ninho, abraço, descanso.
Era hora de por água no feijão, assar o pão, coar café, tomar banho ,bater bolo, preparar o amanhã.
A molecada ainda corria atrás de bola, cachorro, passarinho, manga, pião, menina bonita.
-“Desse jeito logo, logo, tem moleque casando,” ela pensava com seus botões. Daqui a pouco ... no fundo, ela sabia que tudo iria mudar, dali a pouco. Mudar de casa, de rumo, cidade. Tudo ia tomar jeito dali a pouco.
“ Deus me ajuda” Pedia, pedia muito. “Tomara que tenha um filho doutor” suspirava todinha, igual a tardinha que suspirava também...
Só ela, dona Doninha, a mulher do aqui a pouco, não mudava.
Não mudava nunca...Todo dia a mesma coisa. Igual. Igual. Simplesmente igual. A mesma Ave Maria, o mesmo arroz com feijão. .Só a paisagem se atrevia a mudar, mudar de cor, de estação, de patrão.  O resto era só suspiro em cima de suspiro. Quase um merengue. 
De repente me sinto verde...
Por que? Só porque não gosto de suspiro?




Emoções Da Volta

Emoções Da volta


Com pinceladas miúdas e delicadas, busco a cor dos jardins, da saudade e das distâncias.
O sol entra em minha vida, passeia pela paleta e desperta as cores que ainda dormiam.
Tudo vira festa, manhã de bandeirinhas, cantigas no quintal.  Lá, ao longe, o sino da Catedral, lembra que é domingo, dia de ver Deus.
Quase ouço o grito das crianças correndo pelos cantos procurando a bola, a cobra, o que ficou perdido no tempo do ontem. Uma casinha de colono aqui, outra do caboclo acolá, tudo rodeado de verde e de montanha.
E aqui, ali,a gente encontra o fruto doce,a panela no fogo,
a porta aberta convidando pra ficar. Um dedo de prosa combina com café quentinho coado na hora.
Distante, o trem apita uma saudade que dói... Em  minha meninice, eu partia, mas sabia que um dia iria voltar.
E volto também para ver a Casa de meu Deus.  Quem sabe se ele me deixa ficar, por aqui, mais um pouco, pintando as emoções da volta.
 Você deixa meu Deus?








                                                              Amanhã é Sábado

                                   Amanhã é Sábado

Não há porteiras, nem barreiras, nesse mundo encantado. Tudo  é claro, simples, natural.
Lá, o longe não é tão longe assim.
“É só um tirim seu moço .Um tiquim de nada .Fica pras banda de lá.  Tá vendo.?  Distrais do morro.!Pois então ! Vou reza pra Santa Rita te curá dessas lonjura”.
E o seu moço, já um velho cansado, agradecia. Punha o chapéu na cabeça e partia. Cheio de reza, saudade, distância.
Sempre quis voltar. Mas os sapatos doíam. Os medos chegavam e a incerteza punha tranca na porta.
Lá era mais perto do que aqui.
Lá, na verdade, era bem longe.
Mas aqui era mais longe ainda.
Partir era mais fácil que ficar. Fui, mas voltei.
Daqui a pouco vou de novo.Não faz mal.
Assim é a vida, um vai e vem.
Lá, sei de cor os caminhos, até decorei as cores do cimento.
Sei quantas telhas tem um telhado, quantas portas uma casa, quantos degraus uma escada.
Sei quantos passos me trazem de volta.
Agora quero ficar, olhando  meus olhares,
Vendo as roupas  coloridas balançando ao vento.
O cachorro branquelo correndo atrás do dono,
os bois ruminando a tarde, devagarzinho, devagarzinho.
Como se a fome fosse eterna,
 La, do lado de lá, a tarde caia.Mas aqui, do lado de cá, amanhece. AMANHÃ É SÁBADO.


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